O tema “saúde no trabalho” ganhou destaque no segundo episódio do EndosferaCast. A conversa teve como base os resultados do estudo O Trabalho Importa, conduzido pela Santo de Casa Endomarketing, que revelou a saúde como principal preocupação dos profissionais.
“O ambiente de trabalho pode ser o causador de enfermidades e outras questões negativas, mas também pode, na mesma medida, ser produtor de saúde e aspectos positivos na vida das pessoas”, afirma Camila Lustosa, diretora de estratégia e conteúdo da Santo de Casa.
Relações saudáveis e positivas e um ambiente de trabalho próspero e frutífero podem impulsionar o florescimento das pessoas. E grandes empresas já entenderam que priorizar os colaboradores e colocá-los no centro do negócio é bom para a organização também.
O que pode prejudicar a saúde no trabalho
Renata Rivetti, fundadora e diretora na Reconnect Happiness at Work, relata que a sobrecarga de trabalho e os ambientes tóxicos são grandes desafios no cenário corporativo atual. Essa é uma constante reclamação de seus clientes.
De maneira geral, trabalhamos muito, e nem sempre da melhor forma – o que dificulta o equilíbrio entre vida pessoal e profissional. “Parece que estamos sempre nos afogando e não saímos desse lugar”, compara.
Jonathan Tessaro, pesquisador em Sociologia e Antropologia do Trabalho e co-autor do ebook O Trabalho Importa, corrobora a fala com dados da pesquisa: “as respostas contidas ali foram quase um pedido de socorro dos profissionais.”
O clima de algumas organizações também pesa para a saúde no trabalho. “As pessoas ainda se sentem não pertencentes, não ouvidas, não incluídas, existe falta de segurança psicológica, e falhas na comunicação. Isso causa uma desmotivação geral”, salienta Renata.
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O que você, empresa, pode fazer
Ela percebe atualmente uma maior preocupação das empresas com a saúde no trabalho. Contudo, elas ainda têm limitações – e isso é um problema, sobretudo quando o burnout passou a ser considerado uma doença ocupacional. “Já é algo que já está no dia a dia, há letramento e conscientização sobre o assunto, mas as organizações ainda não sabem o que fazer”, observa.
Na sua visão, elas pecam ao atuar somente nos sintomas, sem trabalhar a causa raiz. Ela defende a adoção de ferramentas e mudanças, além de um redesenho do trabalho, para que se atue de forma mais saudável, humana e empática. “Felicidade corporativa não é só um ambiente bonito. Ela tem a ver com relações e com o trabalho. A empresa não pode ser mais um ofensor na saúde mental das pessoas”, provoca.
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André Bersano, Diretor Regional no Great Place to Work Brasil e na Great People Consulting, concorda. Ele percebe o aumento da importância da saúde mental desde a pandemia. Todavia, ela ainda é trabalhada superficialmente, com ações pontuais, mas sem um mergulho profundo na questão.
Para Renata, existem três etapas para aproximar saúde e trabalho:
- Mitigar a doença de quem já teve a saúde afetada
- Prevenir o adoecimento
- Promover saúde e bem-estar
Uma prioridade, mas nem tanto
Dados da GPTW apontam que a saúde mental começou a aparecer com força entre as prioridades do RH a partir de 2021, mas em 2024 caiu do primeiro para o quinto lugar no ranking. E menos da metade das empresas contam com orçamento para investir nisso.
Camila compartilha a sensação de uma barreira nas organizações ao propor e implementar iniciativas que demandem mais energia e mexam com o status quo – mesmo que elas sejam em prol do bem-estar dos colaboradores. Renata lamenta que “se fala muito do custo de treinamento e de comunicação, mas é isso é muito mais barato antes do que depois que as pessoas já adoeceram”.
André explica essa dificuldade: “as empresas não dispostas a aprofundar porque é difícil. Não exige só questões de investimento financeiro – que por si só já é um mega desafio -, mas uma mudança de comportamento de liderança. Hoje, saúde não é tratada como cultura, mas como benefício”.
Liderança preparada para unir saúde e trabalho
Construir uma cultura de saúde mental nas organizações exige ter pessoas preparadas para lidar com isso. Na opinião de André, não pode ser uma responsabilidade somente de quem é da área de saúde ocupacional, medicina do trabalho, ou dos brigadistas emocionais: “isso não é suficiente, é paliativo e resolve pontualmente algumas questões”.
Para ele, o grande desafio das empresas é a disposição de fazer um aculturamento olhando para as lideranças e para o quanto elas são peças-chave no processo de criação de um clima de bem-estar e de saúde mental. E isso é um projeto de longo prazo.
Renata também pensa nessa linha. “Para a criação dessa cultura, é preciso mostrar para essa liderança que esse não é um tema do RH, ele é compartilhado por todos, e que o engajamento nessa construção é bom para os resultados”, analisa.
Contudo, ela enxerga ainda mais um desafio que piora esse cenário: a crença de que uma cultura de bem-estar é antagonista de produtividade, de performance, de resultados. “Enquanto isso não mudar, a liderança não vai engajar”, complementa.
Comunicação para a saúde no trabalho
A comunicação interpessoal tem um peso grande na criação dessa cultura. Camila conta que recebe muitas demandas para preparar líderes comunicadores. “Costumamos falar que nenhum líder é capaz de fazer alguém feliz, mas tem toda a capacidade de tornar alguém infeliz”, revela.
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E essa comunicação positiva pode e precisa ser aprendida. Ela será base para uma relação de confiança e para uma liderança humanizada, capaz de gerar bons resultados.
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Saúde no trabalho para diferentes gerações
Profissionais que estão entrando no mercado agora enxergam o trabalho de outra forma. Renata afirma que a Geração Z, de uma forma geral, não aceita perder a saúde por causa do trabalho.
“Para eles é inadmissível esse lugar da sobrecarga, da liderança abusiva, tóxica, desses ambientes inseguros. Está na hora de a gente entender que essa provocação que eles trazem para o mundo do trabalho é excelente, e eu acredito muito que isso traz a sustentabilidade dos negócios”, complementa.